O Tamanho da Ignorância... ou...A Ignorância sem Limites

(ou... AlphaHorror: Um problema nem tão local assim...)

por Sérgio Tulio Caldas

(Serginho é escritor e jornalista. Um granjeiro como muitos de nós que veio pra cá em busca de qualidade de vida e sossego.Estava fora do país acompanhando a nossa pendenga com Alphahorror e deixou esse belo relato em forma de comentário nesse blog. Pelo sucesso que fez vira agora um belo post)

Fiquei 3 meses fora do Brasil e meu retorno à Granja Viana (local que escolhi viver por causa do verde) só não foi mais chocante porque cheguei à noite. E não pude ver a nova "paisagem" que me aguardava na av. São Camilo. Mas hoje pela manhã fui ver o que tanto temia: o desmatamento de uma área de quase 700 mil m2 de Mata Atlântica, que até outro dia estava em pé na São Camilo, e que brutalmente desapareceu de uma hora para outra.
Eu já vinha acompanhando pelos blogs e pela imprensa o estrago detonado pela AlphaVille Urbanismo na área verde da região. Ao vivo, porém, a imagem é de uma cruel tragédia ambiental. Tão horrível quanto as imagens que vemos de desmatamentos em florestas tropicais da América do Sul, da África ou da Indonésia. Tão horrível quanto as fotos das matanças de focas no Ártico.
Exagero meu? Nem um pouco.
Recentemente participei da edição de um especial da National Geographic intitulado "Mudanças Climáticas" - publicação à venda no Brasil e mundo afora. Nessa edição, o escritor da NG, Joel Bourne Jr., relata que cresceu na Carolina do Norte, nos anos 70, às margens do rio Tar, um rio que costumava ficar congelado a ponto de ser possível cruzá-lo de carro. Hoje, com as devastações nos arredores, o rio corre livre mesmo no período do alto inverno. E qual a relação dessa história com a Granja Viana? Simples: nessa mesma edição da NG, climatólogos informam que os danos ambientais locais estão se tornando mais agressivos que os conhecidos globalmente - e os problemas relacionados às agressões ambientais locais surgem em pouco tempo.Pois bem, com o impacto causado pelo AlphaHorror (onde plantas, bichos e nascentes foram arrancados à força do mapa), qual será a alteração ambiental que veremos aqui na região em 20 anos, 10 anos, 5 anos? (as mudanças na natureza, provocadas pela ação humana, são mais rápidas do que imaginamos, já comprovou a ciência).
Em breve vou para a África falar com jovens jornalistas que me propuseram um tema: "A ignorância como fator de destruição". Eles, africanos, que tanto sofreram e continuam a sofrer com os danos de toda sorte causados por séculos de colonização. Um desses jornalistas me propôs falar sobre a devastação da Amazônia - assunto que, infelizmente, coloca o Brasil no centro das atenções.
Mas resolvi falar sobre o Desmatamento da Mata Atlântica, com um olhar sobre São Paulo. E por diversas razões.
Primeiro, porque me lembrei da reportagem da National Geographic, sobre os problemas ambientais localizados. Depois, porque estou frente a um desmatamento do que restava de um frágil resquício de Mata Atlântica, escancarado nos arredores da cidade de São Paulo, o principal pólo econômico, cultural e irradiador de ideias e comportamento da América do Sul. Também porque São Paulo organizou e está tocando o Projeto Tietê, o maior programa de saneamento ambiental já visto no País. Mais ainda: porque a Mata Atlântica é uma das mais sacrificadas florestas do planeta (ambientalistas e gente um pouquinho só esclarecida do mundo inteiro sabem disso).
Pois nessa mesma cidade de São Paulo, onde se concentram lideranças ambientalistas, ONGs cujo objetivo é preservar e conservar o que resta da Mata Atlântica, um condomínio de luxo (?) destrói sem nenhum pudor uma imensa área verde da floresta, com a autorização dos mesmos órgãos que estão juntos em programas ambientais, como o Projeto Tietê, que citei acima (leia-se aí a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e a Sabesp). E a devastação na São Camilo não foi feita por uma madeireira ilegal, mas, sim, por uma empresa que tem nome e assinatura: Alphaville Urbanismo.
Ruim para nós, mas este é um triste case sobre "ignorância e agressão ambiental". Assunto para discussão local. E internacional.

Comentários

Gabriela disse…
Sergio, o seu texto é uma peça literária!
De leitura fácil, esclarecedor, o retrato daquilo que todos nós sentimos ao nos deparar, de coração partido, com o que aconteceu no dia 7/9, um dia em que, ao invés de irmanados com a natureza, nos sentirmos libertos, donos do nosso destino, irônicamente choramos o jugo a que o poder da "força da grana" nos submete.
É com o incentivo de palavras como as suas que o MDGV vai passo a passo fortalecendo-se e conquistando vitórias.
reginatcoh disse…
Bom dia1
Que maravilha, mais um comentarista lúcido, ilustrado, competente!
PARABÉNS!!!
Abraços,
Regina :)

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