Granja Viana vai para a rua protestar contra desmatamento na região

SEX, 18 DE SETEMBRO DE 2009 08:21

Acontecerá nesse sábado(19), às 10:30 da manhã, em frente ao condomínio Palos Verdes, na Granja Viana, uma manifestação pacífica de granjeiros descontentes com as aprovações de loteamentos e condomínios na região.

O alvo principal dessa manifestação é protestar contra o recente desmatamento de mais de 200 mil metros quadrados, realizado em um terreno da Avenida São Camilo, que segundo especialistas, era habitat de pelo menos quatro espécies ameaçadas de extinção. As ruas da Granja, nessa sexta-feira, já tem algumas faixas chamando os moradores para a passeata, como na entrada do Parque Silvino Pereira, um dos condomínios que dão vista para o loteamento.

Os detalhes da manifestação foram discutidos na última quarta-feira, em reunião realizada na Fábrica de Pizzas, na avenida São Camilo, pelo recém criado Movimento em Defesa da Granja Viana.

A reunião iniciou tumultuada por conta da presença da Alphaville Urbanismo, dona do terreno em questão, que esteve no local tentando dialogar com os moradores. Cerca de 120 pessoas estavam na reunião, e após uma rápida votação - decidindo se deixavam ou não Marcelo Willer ( diretor de Negócios da empresa) falar - deram 15 minutos para que ele expusesse o que está acontecendo e falasse da obra.

Numa apresentação em powerpoint, ele tentou em vão conversar com os moradores, respondendo inclusive algumas perguntas. Mas após os 15 minutos concedidos, algumas pessoas pediram a sua saída do local para que a reunião do grupo tivesse início. Um morador antigo de Granja ainda tentou argumentar e "passar um sabão" no grupo, mas não obteve sucesso. Carlos Bocuhy tomou a palavra e conduziu a reunião com o empreendedor ainda no local, falando da ação cívil em tramitação e coordenando a passeata.

Marcelo e sua equipe deixaram a Fábrica de Pizzas. O Portal Viva foi conversar com ele sobre o acontecido: "Nós fomos bem recebidos, teve votação simbólica, mas algumas pessoas estavam dispostas a ouvir. Muita coisa vai ainda ser discutida com a comunidade para chegar a uma solução para todos", disse.

Marcelo disse que havia uma sensação nas pessoas que ainda iam ser suprimidas mais árvores. "O que mais sentimos aqui foi a questão da fauna, se os animais voltarão ou não", falou.
Ele sugeriu à nossa reportagem que fosse formada uma comissão para visitar o canteiro de obras no próximo dia 26, sábado.

Diante da recusa dos moradores em dialogar com o empreendedor, algumas entidades da Granja resolveram se retirar do Movimento. Em carta enviada à Carlos Bocuhy, do PROAM, que está a frente da discussão, José Roberto Baraúna descreve uma zona de confronto a qual ele não apóia. (Leia a carta aqui).

Independente de sua saída, o Movimento em Defesa da Granja Viana prepara a passeata que irá parar a avenida São Camilo, saindo do condomínio Palos Verdes e seguindo em direção ao terreno onde será erguido o empreendimento Alphaville Granja Viana.

Segundo Bocuhy, o Movimento conta hoje com o apoio formal do Coletivo de Entidades Ambientalistas do Estado de São Paulo. O Coletivo agrega uma centena de entidades não governamentais do Estado de São Paulo, representando as regiões do Interior, Capital e Litoral.

Bocuhy está solicitando o apoio institucional das entidades ambientalistas com assento junto ao CONAMA-Conselho Nacional do Meio Ambiente, com representação das cinco regiões administrativas do Brasil. Esse apoio dará voz forte nos dois conselhos, onde já possui assento o PROAM-Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental.

COLETIVA DE IMPRENSA

Essa semana, os empreendedores, preocupados com a reação da comunidade, realizaram em sua sede - em Alphaville - uma coletiva com a imprensa granjeira para fazer o "mea culpa" e pedir desculpas pelo desconforto causado, procurando o diálogo. (Leia matéria sobre coletiva).

ENTIDADES LOCAIS SE MANIFESTAM

O Rancho dos Gnomos, uma ONG atuando há 18 anos em Cotia-SP que prima pelo bem-estar da fauna, esteve presente na última reunião, preocupada com o Plano de Manejo da área. Segundo Silvia Pompeu, "antes de se fazer um parque público ali, deveriam fazer um cemitério para enterrar os animaizinhos que perderam sua casa e morreram nesse desmatamento", disse. Ela lembrou que a compensação oferecida pelos que desmatam as áreas verdes, é feita exclusivamente para os seres humanos. "As pessoas se esquecem da vida que já existia ali", falou.

Marcos e Silvia Pompeu falaram com exclusividade ao Portal Viva:

OUTRAS MANIFESTAÇÕES

Nessa semana, quem passava na frente do empreendimento, se deparou om uma performance de duas garotas, vestidas de passarinhos. Elas protestavam ao lado do terreno desmatado, chamando a atenção das pessoas que passavam no local. Nessa sexta-feira, às 18 horas, alguns jovens também irão para a frente do empreendimento para fazer uma manifestação contra o desmatamento.

MOVIMENTO EM DEFESA DA GRANJA VIANA

Cansados de assistir nos últimos 2 anos a desvatação de áreas verdes para a construção de novos loteamentos e condomínios, os granjeiros resolveram se manifestar. O estopim da coisa foi o desmatamento na Avenida São Camilo, que deixou à todos com um sentimento de abandono e de tristeza. Diferentemente de exemplos como o Wal-Mart, Shopping Granja Viana e Gafisa, que antes de iniciarem suas obras ouviram a comunidade, transplantando árvores e dando contrapartidas além de firmarem compromissos, a obra começou e os granjeiros reagiram.

Diante de uma situação caótica, que envolve falta de estrutura na região para absorver novos empreendimentos, com impactos significativos no trânsito local e na falta de saneamento, atrelada a uma "total falta de comunicação com a comunidade", a Granja Viana, já cansada de assistir a esse tipo de episódio, se rebelou e criou o Movimento em Defesa do que resta.

Na minha opinião, o que falta na região, são leis modernas, que protejam o nosso Meio Ambiente e a qualidade de vida de quem procurou esse lugar maravilhoso para viver junto à natureza!

Fau Barbosa

Fotos: Ligia Vargas

Fonte: Portal Viva