Lançamento "Alphaville Granja Viana" chega e descontenta moradores da região

Não é segredo para os moradores da região da Granja Viana, que a Avenida São Camilo já não suporta o tráfego intenso acumulado pelos novos "condomínios" construídos nos últimos anos. Não é preciso esperar a "hora do rush" para se deparar com o trânsito. Hoje, ele já é visível muito antes de se chegar nela.

Com o lançamento do empreendimento nesse sábado (04 de julho), a Alphaville Urbanismo chega num momento crítico na Granja Viana. Apesar de todos os seus folders mostrarem um empreendimento voltado para a sustentabilidade, com preocupação com a fauna, e respeito à natureza, o desmatamento causado no terreno já impactou os moradores da Granja, que se mobilizam e se sentem prejudicados com mais um empreendimento, numa região que não tem estrutura viária nem sanitária para receber outras obras desse porte.

Numa prévia hoje, também não foram só os motoristas que reclamaram do trânsito na São Camilo. Os pedestres também foram prejudicados por conta da falta de fiscalização da Prefeitura de Carapicuíba, que não apareceu para proibir o uso das calçadas como estacionamento, numa extensão que ia do Restaurante Sushi Koban até quase o Armazén do Nicolau.Os pedestres andavam na rua, em meio às curvas perigosas.

O EMPREENDIMENTO

Com a promessa de reproduzir o clima intimista da Granja, com mais de 50% composto por área verde e belas paisagens integradas a lazer, conveniência e infraestrutura diferenciada, a Alphaville Urbanismo lança o "Alphaville Granja Viana", localizado no município de Carapicuíba, e querendo nascer com "o espírito de quem vive na Granja Viana".

Projetado em uma área de 674.938 m2, dos quais 380.241 m2 correspondem a áreas verdes (56,34% do total), o empreendimento reunirá 304 lotes residenciais e 29 lotes comerciais, (lavanderia, padaria, locadora e farmácia, entre outros, todos com estacionamento próprio). Um clube em área de 20 mil m2 terá quadras esportivas e de tênis, piscinas adulto e infantil, campo de futebol society e playground. A sede social contará também com salão de festas, fitness center, sala de jogos e brinquedoteca.

A distribuição subterrânea das redes de energia, telefonia e multiserviços garantem uma paisagem limpa. A rede de esgotos promete ser própria, para coleta integral dos afluentes e distribuição à rede do Municipio.

Segundo a empresa, "todos os remanescentes de Mata Atlântica encontrados no terreno serão integralmente preservados". A previsão de implantação é de 24 meses, e as obras devem ser auditadas por um trabalho de monitoramento ambiental.

Para que o empreendimento fosse aprovado, aconteceram algumas parcerias com a prefeitura de Carapicuíba, como a finalização de duas creches, e a doação de uma área de 33.695 m2 para implantar um parque municipal, com acesso público pela Avenida São Camilo, em frente ao empreendimento.

Para facilitar o fluxo local de veículos, a Alphaville também promete a duplicação da avenida numa extensão de 850 metros na testada do empreendimento, que contará com um canteiro central.

O OUTRO LADO

Muitos moradores tem questionado a obra, desabafando estarem "deprimidos" com odesmatamento do terreno e com a vinda do novo empreendimento.

A COMUNIDADE DA GRANJA NO ORKUT

A Comunidade da Granja também anda debatendo o assunto na internet. Os scraps refletem o pensamento dos moradores:

- "Se dependesse de mim ele não sairia do papel".

- "A São Camilo vai parar de vez"!

- "São 304 lotes, o que dá 1.140 m² de área verde por lote. Se dizem que são 230m² de verde por morador, então estão calculando 5 moradores por casa. Se é esse o cálculo, então teremos, no mínimo, mais 608 veículos transitando pela já inviável Av. São Camilo, fora as vans escolares, caminhões, veículos de serviço e população flutuante.
Uma pessoa produz, no mínimo, 800 gramas de lixo por dia X 1520 moradores = 37 toneladas de lixo por mês a mais em um sistema já falido. Uma pessoa produz 100 litros de esgoto por dia X 1520 moradores = 4 milhões quinhentos e sessenta mil litros de esgoto a mais em um sistema inexistente".

- "Quem ganha dinheiro com o mercado imobiliário vê tudo por outro prisma e o que interessa é ter lucro. O problema não é só o desmatamento. A Granja não tem infra estrutura para comportar o número gritante de condomínios criados. Ela não foi "planejada" para isso. Vide as nossas 2 únicas "avenidas" entupidas, o nosso centrinho tumultado, o qual nem espaço decente para pedestre andar possui".

- "A Granja já saturou. Primeiro devemos arrumar a bagunça que já temos para depois pensarmos em fazermos algo a mais!

- "A Alphaville Urbanismo vai duplicar a São Camilo em todo o trecho da frente do empreendimento. Ou seja: vai ligar nada a lugar nenhum".

- "Qualquer empreendimento desse porte tem que ser feito o EIV - estudo de impacto de vizinhança, e somente nesse item, ja ficaria dificil a obra acontecer".

- " Aqui é um lugar de gente simples, que gosta de caminhar, tentar ficar longe da loucura da cidade grande. A São Camilo vai ficar muito mais devagar do que era. Sinto falta da simples Granja Viana de 9 anos atrás".

DESPEDIDA DA MATA

Um grupo de Granjeiros se reuniu, no último domingo (21), na área de terreno que foi totalmente desmatada, para um ritual de "Despedida da Mata". As pessoas chegaram e se reuniram em uma clareira com as árvores abatidas ao fundo. Segundo eles, "Ficou um pedaço muito triste, parece que passou um furacão, o que mexeu bastante com todos os moradores".

O grupo se reuniu baseado no livro "Ciranda das Mulheres Sábias" de Clarissa Pinkola Estés, onde há um capítulo que fala sobre como embaixo de cada árvore há outra árvore e que esta árvore subterrânea alimenta a árvore aparente.

Foi contada a história de um carvalho enorme, muito antigo, que ela viu ser cortado em sua infância, e da tristeza que muitos sentiram com a aparente morte daquela árvore. E como aos poucos foram brotando sete novas árvores daquele enorme tronco, fala de como mesmo quando a árvore visível morre, a árvore subterrânea pode continuar a nutrir e a vicejar. A partir disso é feita uma relação com a estrutura da nossa psique, de como funcionamos de maneira parecida com as árvores.

Enquanto uma moradora falava da estória, seu pai tocava flauta, foi muito emocionante. No final todos conversaram um pouco a respeito da dor de ver o mundo devastado assim tão depressa pela força do dinheiro. Antes de irem embora, passou a van do Instituto Cisne e uma das pessoas que os conhecia chamou por eles e o pessoal desceu. Foi bonito ver todas aquelas pessoas do Instituto ouvindo novamente a estória. Em seguida um homem que passava por ali pediu para ouvir a estória e dessa vez quem contou foi um dos meninos do Instituto Cisne.

"E depois um menino jogou um aviãozinho para levar nossos pensamento para Deus ouvir no Céu e preservar o que resta ali", filosofou a moradora Lena.

"Me deu vontade de contar essa história ali, para algumas pessoas. Acho que essa foi uma maneira de homenagear aquela mata que esteve lá um dia, e também de fazer brotar um aprendizado de algo tão triste", disse Mirna, a líder do grupo.

Mais moradores criticam o que se tornou a São Camilo, em blogs como o do jornalista, diretor de TV, e escritor, além de morador da Granja, Ricardo Soares. Leia aqui.

MOVIMENTO GRANJA VIVA

Também preocupado com o empreendimento, o Movimento Granja Viva, através de seu presidente José Roberto Baraúna, enviou ofício ao Prefeito Carlão Camargo nessa sexta-feira(03), solicitando providências imediatas e informando que a Granja não foi consultada quanto ao empreendimento. Leia a íntegra do documento.

ALPHAVILLE GRANJA CAROLINA

Um outro empreendimento do grupo Alphaville pretende se instalar na cidade, numa área de preservação, a Granja Carolina. Em fevereiro deste ano, a empresa fez audiência pública, tentando pela terceira vez (desde 1970) aprovar um projeto residencial no local.

Ali, o Alphaville "Vila Florestal" pretende ser uma Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN - ou seja, uma unidade de conservação, prevista na legislação federal de proteção ao meio ambiente, como forma de garantir a sustentabilidade socioeconômica.
Nas duas tentativas anteriores, a obra foi inviabilizada por um movimento ambientalista de moradores da região.
A Mata da Granja Carolina, começa na altura do km 34 da Raposo Tavares no bairro de mesmo nome e tem 8.896.100,25 metros².
Apesar dos estudos da empresa mostrarem que 67% da área da Granja Carolina é ocupada por áreas degradadas, ocupações irregulares e pastagens, não há como negar que ela abriga uma vegetação importante e muitas espécies em extinção.

Devemos ressaltar ainda, o que diz a nova Lei de Zoneamento:
Art. 3º - Zoneamento de Uso e Ocupação do solo.
Fica definida a localização de duas zonas ZCEU-I , a primeira localizada numa faixa correspondente a 600m ao norte ao longo e equidistante da linha de divisa norte da Zona de Preservação Ambiental, com o propósito de servir de amortecimento às pressões urbanas de adensamento à referida ZPA (Zona de Proteção Ambiental), onde se localiza a Reserva do Morro Grande.
A segunda, com o mesmo propósito de interesse da preservação ambiental, compreende o perímetro da Mata Nativa da Granja Carolina e seu entorno. (Em tempo: ZCEU-I : 3.000 m2)

Na audiência pública, foram levantadas muitas questões, tanto por moradores como por entidades ambientalistas, entre elas:
- a questão do EIA/RIMA apresentado estar voltado para a Granja Vianna e o empreendimento estar fora dela.
- a falta de um estudo de impacto de vizinhança conforme manda a lei.
- o número de nascentes apresentado não condiz com o relatório da Emplasa.
- a grande preocupação com a fauna existente
- o dano ambiental que precisa ser devidamente calculado
- a legalidade da criação de áreas de RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), administradas pela Associação de Moradores
- o tão necessário estudo de impacto no trânsito da região e adequação da Estrada do Pau Furado.

Sem esquecermos de que, nesse caso, teremos ali mais 11 mil pessoas, o que trará um volume de pelo menos 5 mil carros à Raposo Tavares.

E você, o que pensa sobre esses empreendimentos?

Fonte: Portal Viva Cotia